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terça-feira, 28 de novembro de 2017

Puberdade precoce: "Fiquei assustada com o diagnóstico porque ela ainda era meu bebê"

Puberdade precoce: "Fiquei assustada com o diagnóstico porque ela ainda era meu bebê"

Mãe conta como percebeu que o desenvolvimento da filha estava adiantado e lembra sua reação ao receber o diagnóstico de puberdade precoce


O diagnóstico da puberdade precoce nunca é simples para a família. "Lembro-me de ter um misto de sentimentos. Fiquei muito assustada quando descobri que minha filha de seis anos já estava desenvolvendo seios, afinal ela era meu bebê. Como já podia ter sinais de uma mocinha?", lembra Maria*, médica e mãe de Angélica*, que desenvolveu puberdade precoce.

No entanto, é importante lembrar que, com o diagnóstico precoce e tratamento adequado, além do apoio da família, a criança pode ter uma vida e desenvolvimento normais.
Para ajudar quem está enfrentando este diagnóstico, conversamos com Maria sobre como foi este período:

"Quando uma criança sente dores nos seios, você nunca imagina que é algo bom"

Maria percebeu que algo estava errado com o desenvolvimento da filha quando foi abraçá-la e a menina se queixou de dor no seio, um sinal clássico do desenvolvimento mamário. O problema é que Angélica tinha apenas seis anos e meio de idade.
"Lembro-me que tive uma reação horrorosa, de choque. Mas resolvi esperar um pouco para levá-la ao médico, pois na época ela estava tomando corticoide para tratar uma alergia, e quis acreditar que fosse isso", relata a mãe.

No entanto, como durante 20 dias a dor persistiu, Maria decidiu levar a menina a um especialista. "Anos atrás, quando minha filha apresentou estes sintomas, os protocolos diziam que o crescimento dos seios aos seis anos não era considerado uma puberdade precoce e muitos médicos não quiseram tratá-la", explica Maria.
Hoje, os protocolos mudaram e determinam que meninas com desenvolvimento de pelos pubianos ou mamas antes dos oito anos de idade devem ser avaliadas, assim como meninos que apresentam aumento do volume dos testículos e desenvolvimento de pelos pubianos antes dos nove anos.

"Quis tratá-la para que não pulasse nenhuma etapa do seu crescimento"

Maria acreditava que o tratamento seria importante para sua filha, não só pela questão da altura na vida adulta, que é prejudicada quando uma criança tem puberdade precoce, mas para que ela não pulasse etapas importantes da infância. "Minha filha poderia ficar muito diferente das crianças do grupo ao qual ela pertencia e nenhuma mãe fica feliz com isso".
Ela, então, encontrou um médico disposto a tratar Angélica e o uso de hormônios bloqueadores do eixo foi iniciado. O tratamento da puberdade precoce vai depender muito da sua causa. Quando ela é ocasionada por alterações no sistema nervoso central, como foi com Angélica, o tratamento é feito com hormônios para bloquear o eixo hormonal, que provoca a antecipação da puberdade. A ativação desse eixo é responsável pela liberação de hormônios sexuais (estrógeno e testosterona), que causam as mudanças da puberdade no organismo do menino ou da menina.
Se a puberdade não for central, as causas podem ser orgânicas e o tratamento pode ser cirúrgico ou radio/quimioterápico. Nesses casos, o problema que originou a puberdade precoce, como tumores na hipófise ou alguma modificação nas gônadas (como são chamadas as glândulas sexuais de ambos os sexos - ovários nas meninas e os testículos nos meninos), deve ter prioridade de tratamento. Só depois, a terapia para bloquear a puberdade poderá ser iniciada. Quem vai determinar o melhor tratamento para cada caso será o médico que acompanha o paciente.
No caso da filha de Maria, o tratamento com bloqueadores do eixo hormonal durou três anos, até ela completar nove. Angélica só menstruou após os dez anos. Neste período, a maior preocupação da mãe foi que a filha não perdesse sua infância, apesar das mudanças corporais a diferenciarem dos amiguinhos. "Lembro-me, inclusive, de ter sentido esse medo com muita força quando ela tinha nove anos e não quis ganhar presente nenhum no Dia das Crianças. Isso me deixou arrasada".
Por sorte, ela nunca percebeu a filha ou os amiguinhos da menina preocupados com essa diferença na aparência de Angélica. "Houve uma excursão da escola em que as meninas iam dividir o quarto e fiquei preocupada das colegas repararem o desenvolvimento antecipado da minha filha, mas ela mesma minimizou o problema e correu tudo bem", lembra Maria.
Ela acredita que o adulto enxergue mais as mudanças do corpo como um problema do que as crianças. No entanto, Angélica se incomodava, sim, por ser mais alta do que as amigas, uma diferença mais visível no grupo.

"Por mais que eu soubesse sobre o assunto, mãe é mãe"

Durante os três anos de medicação, mesmo sabendo que o protocolo estava sendo cumprido corretamente, Maria sempre se preocupava: "Durante o tratamento, que consistia em injeções mensais do hormônio, você se sente mal e se questiona se está fazendo o certo", relembra.
Angélica sofria com as injeções, o que aumentava a angústia da mãe, tornando-se o ponto mais crítico do tratamento para as duas. "Mas, ao final, quando o tratamento termina, você se tranquiliza e até agradece por ver a criança seguindo a puberdade normal para sua idade", pondera a mãe.
Apesar do incômodo, Angélica nunca foi muito questionadora sobre o tratamento e sua necessidade. "Acho que só conversamos uma ou duas vezes sobre o tema e depois passou", comenta.
Maria considera que o melhor é abordar o assunto de forma simples com a criança. "Minha filha era muito nova, então só expliquei que ela estava crescendo um pouco mais do que as amigas e que teria que tomar um remédio para conter esse crescimento", explica Maria.
Como Maria é médica, em teoria deveria ser muito mais fácil lidar com o diagnóstico, justamente por ela entender de forma mais técnica o que envolve uma puberdade precoce. Entretanto, na prática, as coisas foram diferentes: "Eu acredito que fui muito exagerada em minhas preocupações e angústias, com a repercussão emocional que esse desenvolvimento precoce poderia ter na minha filha".
Hoje, Angélica tem 24 anos e leva uma vida normal. Como a idade óssea dela era muito avançada (três anos), Maria temeu bastante que a filha não fosse passar de 1,50 m de altura. "Até a preparei para que entendesse que não seria a criança mais alta de seu grupo por muito tempo e tentei não valorizar isso. Mas, no fim, ela ainda cresceu um pouco mais do que eu esperava e tem uma altura mediana para uma mulher", conta Maria.
Por tudo isso, é tão importante acompanhar o desenvolvimento das crianças e procurar um médico caso algum sinal que caracterize o desenvolvimento puberal apareça antes do tempo esperado. A puberdade precoce, quando diagnosticada em tempo, pode ser tratada e, com isso, minimizar o impacto na vida da criança.
"Busque um médico em quem você confie, que defina corretamente o que vocês estão tratando e o porquê, além de passar a segurança de que tudo ficará bem", aconselha Maria.
*Os nomes foram trocados a pedido da entrevistada.

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