Avaliação:7
279562.jpg-r_640_600-b_1_D6D6D6-f_jpg-q_x-xxyxxCom 77 anos de idade e quase 40 de carreira, o lendário cineasta inglês Ridley Scott trabalha cada vez mais. Dirigindo e produzindo, praticamente tem a incrível marca de um filme por ano. É bem verdade que suas obras ditas geniais tenham surgido, seguidamente, logo no início dessa jornada – “Os Duelistas” (1977), “Alien – O Oitavo Passageiro” (1979) e “Blade Runner – O Caçador de Andróides” (1982) – e detenha alguns bons lapsos anos depois – “Thelma e Louise” (1991), “Gladiador” (2000), “Os Vigaristas” (2003) e “O Gângster” (2007) -, mas sua paixão pela sétima arte é algo que transcende aforismos. Dono de um senhor estúdio no Reino Unido, sucesso nas bilheterias e por vários anos parceiro da poderosa 20th Century Fox, Scott sempre teve carta branca para realizar títulos de vários gêneros e contar com grandes astros.
Agora, no ano da volta dos épicos, o diretor vem para o seu quarto longa do estilo retratar a história de uma das figuras mais emblemáticas do Velho Testamento, Moisés (Christian Bale) – bem como Darren Aronofsky fez com Noé (Russell Crowe). Ambas são produções que, além de bíblicas e grandiosas, do ponto de vista orçamentário, focam no tema da fé e alocam um homem como mensageiro de Deus. Ou curiosamente por Bale e Crowe terem sido cotados inicialmente para viver o papel um do outro. Apesar dos atores desempenharem bem suas funções. Aliás, o irmão de Tony Scott traz novamente um estrelado casting formado por nomes como Sigourney Weaver, John Turturro e Ben Kingsley, podendo até se dar ao luxo de coloca-los em pequenos papéis. – Mas as comparações param por aí, já que os filmes têm abordagens absolutamente diferentes. Como também erros e acertos em suas intenções.
Se de um lado vimos um homem cego por sua fé e obcecado em realizar o que lhe foi destinado, do outro notamos um sujeito que duvida o tempo todo de si mesmo e até tem fortes conflitos com as ordens e ideias punitivas de Deus – deixando assim a trama mais ambígua e interessante. De modo que “Êxodo – Deuses e Reis” aparenta ser um filme muito mais humano e centrado que “Noé” (2014), ainda que não tenha o mesmo peso dramático. No entanto, diferente do jeito grosseiro e quase ignorante da época visto no personagem de Crowe, este segundo do Bale parece muito à frente de seu tempo, com pensamentos evoluídos até hoje discutidos por religiosos, causando certa estranheza no espectador. Tal interpretação também está ligada a como são mostrados o povo egípcio e hebreu. Impiedosos e escravistas contra sofridos e valentes. Em dado momento, chegamos à conclusão que não há lógica na revolta e persona de Ramsés (Joel Edgerton).
Eficiente narrativamente, apesar da longa duração e diferentemente de “Robin Hood” (2010), Ridley Scott não pesa a mão e torna bastante orgânico o caminhar do filme. Mesmo sem criar nenhum grande plot twist, os acontecimentos e transições da fita atraem o suficiente para prender a atenção do público. Quão o roteiro de Steven Zaillian possui diálogos pontuais para o fluxo da trama, mesmo que soem deveras expositivos em alguns andamentos, como aquele das pragas, quando um conselheiro tenta explicar cientificamente os acontecimentos para o Rei. As tomadas panorâmicas e seguimentos laterais de câmeras são precisos para mostrar as batalhas sangrentas e a imponência dos cenários, com construções gráficas impressionantes que retratam fielmente o antigo Egito.
Contudo, mesmo entregando algo superior a suas últimas empreitadas e ganhando o título de ter feito o melhor épico do ano – por se sobressair a bombas como “300: A Ascensão do Império”, “Hércules” e “Pompeia” -, ainda não foi dessa vez que Ridley Scott voltou a sua antiga e brilhante forma. “Êxodo – Deuses e Reis” é filme grandioso em aspectos técnicos, possui boas atuações, conta sua história com sobriedade e é realmente distinto dentro do gênero, mas não tem coração, digamos assim, às vezes esquece seu potencial dramático e no fim das contas acaba soando como um trabalho de produtor e não de autor.