Tradutor - Select your language

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Polícia apreende 73 fuzis na Rocinha em três dias de ocupação

Disque-denúncia já recebeu 600 ligações sobre a comunidade

Isabel de Araújo
Tais Mendes
Rafael Galdo
Publicado:

Bope encontrou 19 fuzis e 2 pistolas na Rua 2 no início da tarde desta terça.
Mais cedo outros 10 fuzis foram achados em laje de casa da comunidade
Bope encontrou 19 fuzis e 2 pistolas na Rua 2 no início da tarde desta terça. Mais cedo outros 10 fuzis foram achados em laje de casa da comunidade Roberto Moreira / Extra/Agência O Globo.
RIO - As polícias Civil e Militar já apreenderam 129 armas de fogo, incluindo 73 fuzis, na Rocinha, no Vidigal e na Chácara do Céu em três dias de ocupação. De acordo com o balanço divulgado pela Secretaria de Segurança do estado, também foram recolhidos mais de 350 quilos de drogas - entre maconha, cocaína, pasta de cocaína, crack e esctasy -, 23 mil munições e 148 explosivos - entre bombas caseiras, granadas e rojões. O número de apreensões revela o forte poderio dos traficantes das comunidades, mas também o aumento da ajuda de moradores, que se mostraram mais seguros para fazer denúncias de esconderijos de drogas e armas.

Nos primeiros 14 dias de novembro, o Disque-Denúncia (2253-1177) recebeu 673 denúncias relacionadas à Rocinha e ao Vidigal, número 30 vezes maior do que no mesmo período de 2010, quando foram recebidas 22 ligações. Apenas entre domingo e segunda-feira, foram 308 chamadas. Nas três semanas anteriores, a média de informações sobre a região durante um domingo ou segunda era de quatro ligações por dia.

Com a ajuda das informações dos moradores, apenas nesta terça, policiais do Batalhão de Operações Especiais (Bope) apreenderam 29 fuzis, sendo 19 deles em uma casa na localidade conhecida como Roupa Suja, próximo à Rua 2. No mesmo local, os policiais encontraram uma metralhadora .30, duas espingardas calibre 12, duas pistolas, nove granadas e 123 carregadores de fuzil. Além disso, os policiais localizaram uma quantidade ainda não contabilizada de coletes à prova de bala, fardas camufladas, fogos de artifício e material de endolação de drogas. Segundo o tenente Tiago Matos, que coordenou a ação, os policiais se surpreenderam com a apreensão da metralhadora:
— Essa arma tem um poder de fogo enorme. Poderia inclusive derrubar uma aeronave.

Um dos fuzis encontrados nesta terça tinha um adesivo de coelho, em alusão ao traficante Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, chefe do tráfico no Morro de São Carlos preso na semana passada na Gávea e braço-direito do traficante Antonio Bonfim Lopes, o Nem. Mais cedo, os policiais já tinham encontrado 10 fuzis escondidos na laje de uma residência, também na localidade Roupa Suja.

Segundo a polícia, os militares chegaram até as armas através de denúncias. No balanço dos três dias de ocupação, ainda foram apreendidos 510 carregadores, cerca de 150 motos roubadas ou irregulares, aproximadamente 20 mil mídias piratas - entre CDs e DVDs -, 51 cartões de crédito, 100 cartões para clonagem, 62 máquinas caça-níqueis, 47 rádios transmissores e três centrais de TV a cabo.
— Nós esperamos receber agora mais denúncias nesse dia a dia da população observando o que está acontecendo dentro da Rocinha. A polícia não conhece tão bem quanto os moradores o que está acontecendo lá. E é necessária essa informação — afirmou o coordenador do Disque-Denúncia, Zeca Borges, em entrevista ao RJ-TV.
Nesta terça-feira, 147 toneladas de lixo foram recolhidas nas comunidades da Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. Este é o segundo dia de operação reforçada de limpeza urbana, uma ação da prefeitura por meio da Comlurb. As ações policiais de pacificação paralisaram os serviços nas favelas durante o fim de semana, e agora os garis retiram o acúmulo de lixo. Desde o início da operação, cerca de 280 toneladas de resíduos já foram recolhidos das três comunidades. Foram 157 homens, entre trabalhadores comunitários e garis da Comlurb. A equipe contou com quatro pás mecânicas, 14 caminhões basculantes, cinco caminhões compactadores, uma varredeira, um poliguindaste e dois minitradores. O trabalho da empresa contará também com garis alpinistas, para a retirada de lixos nas encostas.
“A partir de amanhã (quarta-feira) daremos início a um esforço concentrado para elevar o nível de atendimento na Rocinha, Vidigal e Chácara do Céu. Nossos homens estarão trabalhando ininterruptamente para levar melhores serviços e ambiência urbana para estas comunidades”, disse o secretário de Conservação e Serviços Públicos Carlos Roberto Osorio, por meio de nota.

A força-tarefa para os serviços de conservação começará na quarta-feira. O trabalho da Coordenadoria Geral de Conservação (CGC), que contará com cerca de 60 funcionários, vai priorizar a recuperação do sistema de drenagem, por meio da limpeza e desobstrução de águas galerias pluviais, caixas e ramais de ralo. Também está nos planos a recuperação da pavimentação asfáltica, recuperação de escadarias, grades, gradis e implantação de meio-fio na Auto-Estrada Lagoa Barra, na saída do Túnel Zuzu Angel.

Já a Rioluz vai restabelecer e reparar o sistema de iluminação pública das localidades, em um trabalho que contará com 60 homens. A concessionária também fará a substituição e a limpeza dos equipamentos danificados, com sete kombis, seis caminhões cesto aéreo, um caminhão baú e outros oito veículos leves.
Pela manhã desta terça-feira, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, o comandante-geral da Polícia Militar, Erir Ribeiro, e a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha percorrem a Rua Presidente João Goulart, um dos principais acessos ao Vidigal, para ver de perto a ocupação.

Após ocupação, moradores ainda não sabem como agir na Rocinha
A madrugada não parecia uma véspera de feriado na Favela da Rocinha, na Zona Sul. Os moradores continuam apreensivos, sem saber como se comportar numa comunidade agora ocupada pela polícia. A rua principal tinha movimentação de apenas três barracas de ambulantes, e faltavam clientes. Um casal que jantava num restaurante japonês disse que, num dia de feriado normal, a rua principal estaria lotada.

Os funcionários do restaurante começaram a recolher as mesas e cadeiras, e aguardavam apenas os últimos - e únicos - clientes irem embora para fechar. Antes da 1h desta quarta-feira, o estabelecimento já tinha baixado as portas. Um funcionário contou que, em feriados e no fim de semana, costumava fechar às 4h. Um baile que estava previsto na quadra da escola de samba Acadêmicos da Rocinha foi cancelado.
— É estranho porque ainda estamos nos adaptando à ocupação. As pessoas não sabem como agir. O que sabemos é que, nas outras comunidades ocupadas, a polícia tinha proibido música alta e festas. Então ninguém sabe como se comportar — comentou a dançarina Ingrid Aparecida.

Um outro grupo de quatro amigos que tomava um suco na lanchonete aos pés da comunidade também dizia que a movimentação de pessoas estava muito fraca na rua. Segundo eles, em vésperas de feriados "ficava até difícil circular pela ladeira no começo da comunidade". O forró "no valão", que costumava acontecer às segundas, e todos os eventos foram cancelados na comunidade. Segundo um motoboy, que não quis se identificar, disse que ninguém estava dando festa à noite, nem mesmo de aniversário.

Pela manhã, por volta das 8h, pedestres caminhavam pelas vielas da comunidade. Os serviços de mototáxis e de vans funcionavam normalmente. Parte do comércio está de portas fechadas por conta do feriado.
A Cedae decidiu substituir a antiga elevatória que abastece a comunidade, que tem mais de 30 anos e fica localizada no Morro Dois Irmãos, por outra mais moderna, com maior potência e eficiência. Segundo a companhia, a nova elevatória, a maior em comunidades do Rio, terá capacidade para bombear cerca de 150 litros de água por segundo e vai beneficiar aproximadamente 100 mil moradores da região.

Com a ocupação, o estado vai retomar a execução de obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC 1) que tinham sido paralisadas, como a construção de plano inclinado, creche, biblioteca e ações de urbanização. De acordo com a Empresa de Obras Públicas (Emop), até agora já foram gastos R$ 277 milhões e, até dezembro de 2012, serão investidos mais R$ 51 milhões (sendo 60% da União e 40% do estado).
Outro projeto importante que deve ser concluído em até três meses é o do parque ecológico. A Emop informa que o governo do estado ainda investirá R$ 5 milhões, de um total de 26 milhões. Somando-se o montante para a conclusão dessas obras a novas intervenções previstas no PAC 2, a comunidade deverá receber R$ 756 milhões até 2014.
A Operação Choque de Paz foi precedida por várias outras ações antes da ocupação. As polícias Militar, Civil e Federal contaram com o apoio da Polícia Rodoviária Federal e, ao longo de duas semanas, focaram em redutos de facções aliadas dos traficantes da Rocinha nas Zonas Norte e Oeste e em Niterói e Macaé, com o objetivo de desestruturar eventuais refúgios para os traficantes. Como resultado, oito bandidos foram mortos, 37 foram presos – entre eles um policial militar e três policiais civis – e sete menores foram apreendidos. As apreensões totalizaram 3.086 sacolés de cocaína, 1.519 pedras de crack, 355 papelotes de cocaína e 537 trouxinhas de maconha. Dois automóveis e oito motos foram recuperados, além de 46 armas (entre revólveres, pistolas, fuzis e submetralhadoras), 10 granadas e 32 artefatos caseiros.

Já em operação na Rocinha, realizada em 3 de novembro, a Polícia Civil apreendeu 31 motos, 21 mil CDs e DVDs piratas, 4,5 mil peças de vestuário, 100 pares de tênis e 1,3 mil brinquedos que eram vendidos de forma irregular. Os policiais civis também encontraram rojões de artilharia antiaérea e rádios-transmissores.

Nenhum comentário:

Postar um comentário