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quinta-feira, 4 de maio de 2017

Belchior passou últimos anos recluso, traduzindo suas canções e obra de Dante Alighieri

Belchior passou últimos anos recluso, traduzindo suas canções e obra de Dante Alighieri

Cantor morreu aos 70 anos no Rio Grande do Sul após compor clássicos nos anos 1970 e passar alguns anos desaparecido.

Belchior passou últimos anos recluso, compondo e traduzindo obra de poeta
Belchior passou últimos anos recluso, compondo e traduzindo obra de poeta
Belchior passou os últimos anos recluso, compondo e traduzindo a obra de um dos grandes poetas da humanidade, o italiano Dante Alighieiri.

O cantor de 70 anos morreu na madrugada deste domingo (30) em Santa Cruz do Sul (RS). Assista à reportagem no vídeo acima.
O músico de nome imponente — Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelles Fernandes — cresceu em Sobral, no Ceará, em uma família nordestina típica de época, com 23 irmãos. 

“Como vocês estão vendo é um dos maiores nomes da música popular. Um daqueles nomes que no sertão você diz que é percorrido a cavalo”, brincava.
“Foi na minha cidadezinha que eu vi cantador, ouvi violeiro, ouvi o rádio do vizinho, meu avô que tocava sax, flauta.” 

A música foi com ele para Fortaleza, onde começou a estudar medicina, mas abandonou e foi estudar filosofia. Um pensador que tinha a poesia e a melodia como ferramentas. 

Na capital, Belchior fez parte de um movimento rico da história da música brasileira. O pessoal do Ceará, que reunia entre outros, Fagner e Ednardo. 

Foi em parceria com fagner o primeiro sucesso, “Mucuripe”. A música venceu um festival em Brasília e Belchior decidiu tentar a vida de artista em São Paulo. 

“Eu sempre gostei muito de música, minha mãe era totalmente a favor, meu pai era contra. Minha mãe dizia: “um cara como você, loiro, olhos, azuis, 1,92m sem salto alto, tem tudo para vencer. Vá para São Paulo. lá o dinheiro tá correndo.

Mesmo assim eu vim, vim para São Paulo, a cidade mais populosa do nordeste, e aqui estou como o galo, vivendo de canto e de beleza”, disse o cantor. 

A força de seus versos conquistou a grande estrela da música brasileira, Elis Regina. “Mucuripe” foi a primeira música de Belchior gravada por ela. 

O grande sucesso chegaria também na voz de Elis. O desabafo de uma geração crescida sob a ditadura, que lutou por liberdade e se via cercada pela censura e a opressão do regime militar. 

Apesar da qualidade de seus novos discos, o sucesso dos anos 70 não o acompanharia. Belchior ainda fazia shows, mas em 2007, sumiu da vida pública.
Dois anos depois, em 2009, o Brasil inteiro se perguntava “cadê Belchior”. A alma do artista, atormentada por problemas financeiros, e por razões que só ele conhecia, escolheu a reclusão como saída. 

Na que talvez tenha sido a última entrevista dele para a televisão, numa pousada no coração do pampa uruguaio, contou que estava traduzindo o clássico "A divina comédia", de Dante Alighieri, e produzindo muito. 

“Estou fazendo um trabalho de tradução da minha música para o espanhol. Vou lançar um cancioneiro nas duas línguas, um cancioneiro inteiro e já fiz um trabalho aqui de tradução da música. Estou compondo muito. Quero fazer para o próximo ano um trabalho com canções inéditas, já vinha fazendo.” 

Belchior ainda comentou o movimento que pedia pela sua volta à vida pública e aos palcos. “Eu me sinto imensamente feliz em me ver tão amado e tão requisitado, sabe? Porque é muito bom isso. Eu tenho certeza que esse movimento é um movimento super bem-sucedido”, ri. “É o Brasil, o Brasil está comigo sempre, e estou voltando para o Brasil.” 

Voltou, ainda recluso. A notícia da morte dele surpreendeu moradores de Santa Cruz do Sul (RS), que nem sabiam que o cantor vivia na cidade. Na madrugada deste domingo, Belchior sumiu de vez. 

Mas pode ser encontrado a qualquer hora em seus versos, que como toda grande obra, retrata qualquer tempo.
Belchior canta Belchior canta
Belchior canta "Divina comédia humana" (Foto: Reprodução/TV Globo)

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