Belchior passou últimos anos recluso, traduzindo suas canções e obra de Dante Alighieri
Cantor morreu aos 70 anos no Rio Grande do Sul após compor clássicos nos anos 1970 e passar alguns anos desaparecido.
Belchior passou os últimos anos recluso, compondo e traduzindo a obra
de um dos grandes poetas da humanidade, o italiano Dante Alighieiri.
O cantor de 70 anos morreu na madrugada deste domingo (30) em Santa Cruz do Sul (RS). Assista à reportagem no vídeo acima.
O músico de nome imponente — Antonio Carlos Gomes Belchior Fontenelles
Fernandes — cresceu em Sobral, no Ceará, em uma família nordestina
típica de época, com 23 irmãos.
“Como vocês estão vendo é um dos maiores nomes da música popular. Um
daqueles nomes que no sertão você diz que é percorrido a cavalo”,
brincava.
“Foi na minha cidadezinha que eu vi cantador, ouvi violeiro, ouvi o rádio do vizinho, meu avô que tocava sax, flauta.”
A música foi com ele para Fortaleza, onde começou a estudar medicina,
mas abandonou e foi estudar filosofia. Um pensador que tinha a poesia e a
melodia como ferramentas.
Na capital, Belchior fez parte de um movimento rico da história da
música brasileira. O pessoal do Ceará, que reunia entre outros, Fagner e
Ednardo.
Foi em parceria com fagner o primeiro sucesso, “Mucuripe”. A música
venceu um festival em Brasília e Belchior decidiu tentar a vida de
artista em São Paulo.
“Eu sempre gostei muito de música, minha mãe era totalmente a favor,
meu pai era contra. Minha mãe dizia: “um cara como você, loiro, olhos,
azuis, 1,92m sem salto alto, tem tudo para vencer. Vá para São Paulo. lá
o dinheiro tá correndo.
Mesmo assim eu vim, vim para São Paulo, a
cidade mais populosa do nordeste, e aqui estou como o galo, vivendo de
canto e de beleza”, disse o cantor.
A força de seus versos conquistou a grande estrela da música
brasileira, Elis Regina. “Mucuripe” foi a primeira música de Belchior
gravada por ela.
O grande sucesso chegaria também na voz de Elis. O desabafo de uma
geração crescida sob a ditadura, que lutou por liberdade e se via
cercada pela censura e a opressão do regime militar.
Apesar da qualidade de seus novos discos, o sucesso dos anos 70 não o acompanharia. Belchior ainda fazia shows, mas em 2007, sumiu da vida pública.
Dois anos depois, em 2009, o Brasil inteiro se perguntava “cadê
Belchior”. A alma do artista, atormentada por problemas financeiros, e
por razões que só ele conhecia, escolheu a reclusão como saída.
Na que talvez tenha sido a última entrevista dele para a televisão,
numa pousada no coração do pampa uruguaio, contou que estava traduzindo o
clássico "A divina comédia", de Dante Alighieri, e produzindo muito.
“Estou fazendo um trabalho de tradução da minha música para o espanhol.
Vou lançar um cancioneiro nas duas línguas, um cancioneiro inteiro e já
fiz um trabalho aqui de tradução da música. Estou compondo muito. Quero
fazer para o próximo ano um trabalho com canções inéditas, já vinha
fazendo.”
Belchior ainda comentou o movimento que pedia pela sua volta à vida
pública e aos palcos. “Eu me sinto imensamente feliz em me ver tão amado
e tão requisitado, sabe? Porque é muito bom isso. Eu tenho certeza que
esse movimento é um movimento super bem-sucedido”, ri. “É o Brasil, o
Brasil está comigo sempre, e estou voltando para o Brasil.”
Voltou, ainda recluso. A notícia da morte dele surpreendeu moradores de
Santa Cruz do Sul (RS), que nem sabiam que o cantor vivia na cidade. Na
madrugada deste domingo, Belchior sumiu de vez.
Mas pode ser encontrado a qualquer hora em seus versos, que como toda grande obra, retrata qualquer tempo.
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