Suspensão do embargo resultará na entrada de milhões de barris do Irã no mercado saturado
A entrada em vigor do acordo nuclear do Irã, suspendendo as sanções aplicadas contra o país, é mais um capítulo na trajetória de fatos que vem fazendo despencar o preço do barril de petróleo no mundo. Os Estados Unidos e a União Europeia decidiram, neste sábado (16), suspender as sanções aplicadas ao Irã, logo após a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmar que o país cumpriu todas as exigências do acordo nuclear assinado em julho, em Viena.
O fim das sanções fará com que bilhões de dólares congelados do petróleo iraniano voltem ao país, e resultando na entrada de milhões de barris do país (dono da quarta maior reserva de petróleo no mundo) no mercado internacional, já saturado com oferta em excesso.
A expectativa pelo fim do embargo fez, na sexta-feira (15), o preço do barril de petróleo despencar a níveis jamais vistos em mais de uma década. O barril de Brent para entrega em março fechou em forte baixa de 6,7% no mercado de futuros de Londres, cotado a US$ 28,94. Foi a primeira vez desde fevereiro de 2004 que o petróleo do Mar do Norte encerrou uma sessão abaixo de US$ 30.
Já o barril do WTI encerrou a sessão de hoje em queda de 5,7%, com cotação a US$29,42. Foi seu pior resultado desde novembro de 2003.
O fim do embargo trará também mais tensão para as relações entre Irã e Arábia Saudita. Os países já passam por conflitos crescentes, e a Arábia teme que a liberação da economia do Teerã permita que líderes iranianos ganhem mais poder na região. Com a abertura da economia e, consequentemente com mais dinheiro em caixa, o Irã poderá apoiar outros países, ganhando força na queda de braço com os árabes. A Arábia Saudita enfrenta forte endividamento por causa da queda dos preços do petróleo. Contudo, a própria Arábia Saudita, que é o maior produtor mundial, ajudou a derrubar o preço, recusando-se a diminuir a produção em 2014 para tentar prejudicar o Irã.
Crise do petróleo afeta bancos dos EUA
A crescente queda no preço do barril de petróleo está afetando também bancos dos Estados Unidos. De acordo com reportagem do Financial Times, três dos maiores bancos dos EUA revelaram os danos causados pela queda do preço do petróleo nesta semana. "Houve forte alta nos empréstimos problemáticos ao setor de energia e temores de contágio em outras carteiras", diz o texto.
De acordo com a reportagem, o Citigroup, quarto maior banco norte-americano pelo critério de ativos totais, "teve alta recorde, de 32%, no índice de inadimplência em empréstimos a empresas, principalmente em sua carteira de energia na América do Norte, no quarto trimestre, ante o período em 2014."
Ainda segundo o texto, o Wells Fargo, o terceiro maior banco norte-americano pelo critério de ativos, "reservou US$ 831 milhões a mais em provisões para maus empréstimos no período, além da alta de US$ 731 milhões no terceiro trimestre, principalmente por causa do setor de petróleo e gás."
A reportagem prossegue destacando que um dia antes, o JPMorgan Chase, o maior banco dos EUA, anunciou estar "observando de perto" a situação. O Financial Times frisa que, se o petróleo se mantiver em seu nível atual de preço, cerca de US$ 30 por barril, "o banco anunciou que seria forçado a elevar em US$ 750 milhões suas reservas contra inadimplência neste ano -o que consumiria cerca de um terço dos ganhos com a receita líquida de juros."
Ainda segundo o texto, além de cortes em investimentos e falência de empresas menores, a queda livre do preço do petróleo "lançou os bancos em uma corrida para ver quem faz previsões mais pessimistas."
Esta semana, o Morgan Stanley se uniu ao Goldman Sachs ao prever preço de US$ 20 por barril para o petróleo, e o Standard Chartered foi além, afirmando que o preço pode cair a apenas US$ 10 antes que os administradores de investimentos "admitam que as coisas foram longe demais", diz o FT.
Brasil analisa preços do petróleo para decidir sobre ajuda à Petrobras
A presidenta Dilma Rousseff destacou na sexta-feira (15) durante café da manhã com jornalistas, que não descarta a adoção de uma política por parte do governo para salvar a Petrobras. A mandatária também reforçou que a estatal "tem se adaptado" às dificuldades econômicas enfrentadas.
Questionada sobre a possibilidade da União ajudar a estatal a se capitalizar, Dilma disse que o governo vai continuar analisando os desdobramentos da queda no preço do petróleo para decidir o que fará.
"O petróleo a preço mais baixo vai alterar de forma substantiva a economia internacional. É óbvio que o petróleo em níveis menores será sempre preocupante. O que nós faremos será em função do cenário nacional e internacional. Nós não descartamos que será necessário fazer uma avaliação se esse processo continuar. Agora, não somos nós, governo brasileiro, que descartamos. Nenhum governo vai descartar, incluindo a política do Fed [Banco Central dos Estados Unidos] de redução de juros", disse.
A presidente Dilma salientou, na ocasião, que um "processo de recuperação" deve ocorrer em todos os países, a partir do momento em que, em decorrência da desvalorização das moedas estrangeiras e do real, houver consequências não somente no aumento da exportação mas também na produção interna de insumos.
"Eu acredito que nessa questão do preço do petróleo estão embutidas muitas coisas além da Petrobras. Ela tem força para se manter. Ela produz petróleo em um preço muito baixo. Ela tem essa expertise, todo mercado sabe que ela produz a um custo baixo. Diante desse fato, ela tem se adaptado. Ela tem diminuído, por exemplo, seus investimentos. Não porque ela queira. É porque, se ela não fizer isso, não sobrevive. Ela toma também suas medidas", completou Dilma Rousseff.
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