Além da CIA, escândalo sexual envolve FBI e Otan; informações sigilosas vazaram
15.11.2012 | Atualizado em 15.11.2012 - 10:02
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Priscila Chammas
priscila.chammas@redebahia.com.br
Investigações que partem do nada, vazamento de informações secretas e muitas traições conjugais. Se a história protagonizada pelo agora ex-chefe da CIA general David Petraeus fosse um filme, seria daqueles em que o telespectador olha incrédulo para a tela e suspira algo do tipo “mas será possível que todo mundo ‘se pega’ nesse filme?”. Sim, todo mundo se pega, no sentido mais baiano da expressão. Aquele que se refere a ficar, ter um caso, uma relação amorosa ou sexual.
O ex-diretor da CIA David Petraeus beija sua esposa, Holly: até parece uma cena típica de casal feliz, mas...
E é justamente a traição do protagonista David que dá início à problemática central do enredo: o vazamento de informações secretíssimas da CIA, que culminou em sua renúncia ao cargo, na semana passada. Tudo começou quando o general sessentão resolveu se engraçar com a ex-major do Exército Paula Broadwell, 20 anos mais nova e também casada, mãe de dois filhos.
Em 2010, quando Paula escrevia uma biografia de David, o general atuava como comandante das tropas americanas no Afeganistão. Resultado: a moça viajava constantemente para entrevistá-lo e os dois ficavam sozinhos no alojamento, saíam para correr juntos, enfim... ficaram muito, muito próximos, exatamente do jeito que você imaginou agora.
Para que ninguém desconfiasse, eles usavam uma forma secreta para se comunicar. Criaram uma conta ‘conjunta’ no Gmail, da qual os dois tinham a senha, e escreviam as mensagens na pasta de ‘rascunhos’. O outro lia e respondia do mesmo jeito, sem precisar enviar os e-mails. Ideias que só mesmo um diretor da CIA poderia ter.
... Petraeus tinha uma amante, a ex-major do Exército Paula Broadwell, a autora de sua biografia
Ameaças
O romance ia bem, obrigado. Até que um belo dia, depois de lançar a tal biografia, em janeiro, Paula começa a desconfiar que o amante teria outra amante. Mas a amante, na verdade, era amante de outro e tinha ainda mais um amante.
É amante demais para a sua cabeça? Vamos com calma, então. Paula começou a desconfiar que David andava muito próximo de Jill Kelley, também casada e amiga da família do general. E, como manda a cartilha de toda mulher ciumenta e passional, começou a enviar ameaças anônimas por e-mail à suposta rival.
Só que ela não contava que Jill tinha um amigo (depois descobriu-se que amigo não seria bem a palavra) trabalhando no FBI, e pediu ajuda a ele para descobrir quem a ameaçava. O FBI começou a investigar e acabou descobrindo não só a autoria dos e-mails como as mensagens que Paula e David trocavam secretamente pelo rascunho do Gmail. Ao descobrir as ameaças, David repreendeu a moça, o que talvez tenha despertado a fúria de Paula.
Coincidência ou não, a agora ex-amante de David mencionou sem querer uma informação sigilosa da CIA durante uma palestra para estudantes da Universidade de Denver em outubro. Na ocasião, ao ser indagada por um estudante sobre o ataque em Benghazi, na Líbia, Paula disse que o “anexo da CIA na verdade tinha membros de uma milícia líbia presos e eles acreditam que o ataque tenha sido para resgatá-los”. Teria David passado essa informação à amante num momento mais... relax, digamos assim?
Investigação
Foi o que o FBI imaginou e começou a investigar a moça. Após o interrogatório, no qual admitiu o romance, ela entregou seu computador para os investigadores, e nele foram encontrados arquivos sigilosos.
Também interrogado, o general David não teve saída e também assumiu o caso extraconjugal, mas negou que tivesse vazado os dados secretos. Mesmo assim, foi obrigado a renunciar, em 7 de novembro, dia seguinte ao das eleições dos Estados Unidos. “Depois de estar casado por mais de 37 anos, mostrei julgamento extremamente ruim ao me envolver em um caso extraconjugal. Tal comportamento é inaceitável, tanto para um marido quanto para um líder de uma organização como a nossa”, disse, no dia.
A história poderia ter acabado aí. Mas agora é que se desenrola a trama dos coadjuvantes. A socialite Jill, que poderia ter terminado o filme como a mocinha injustiçada, na verdade não tinha um amante. Tinha dois. Um deles o tal agente do FBI que a ajudou a descobrir a autoria das ameaças. Numa investigação posterior, descobriu-se uma intensa troca de mensagens entre os dois, em algumas delas ele enviava fotos suas sem camisa. Até aí, nada que comprometesse algo mais do que seu próprio casamento com o médico Scott Kerlley.
Acontece que o outro amante era o general John Allen, que acabava de ser designado pelo presidente Barack Obama para comandar a Otan. Allen também é casado e trocou e-mails comprometedores com Jill. Milhares de e-mails. Segundo o FBI, algo entre 20 mil e 30 mil páginas de correspondência com conteúdo “inapropriado”.
Resultado: Obama voltou atrás e desistiu da indicação. “A pedido do secretário de Defesa, o presidente suspendeu a designação do general Allen, e espera investigação sobre sua conduta”, justificou o porta-voz do Conselho de Segurança, Tommy Vietor. Se ficou curioso para saber quem mais pegou quem e quem será o próximo a cair, aguarde as próximas investigações.
Obama diz que não há provas de vazamento de documentos
No primeiro encontro com a imprensa após a reeleição, em que o tema principal era a economia, o presidente Barack Obama voltou a falar sobre o caso Petraeus e afirmou que, até o momento, não há evidências de que informações confidenciais tenham sido reveladas. Ele voltou a destacar a carreira “extraordinária” do ex-diretor da CIA, que pediu demissão na semana passada ao admitir um caso extraconjugal. “Até o momento, não temos nenhuma prova de que documentos secretos tenham vazado. Obviamente, existe uma investigação em curso e o FBI tem protocolos a serem seguidos. Petraeus teve uma carreira extraordinária. Ele serviu este país com grande distinção, no Iraque e Afeganistão. E, quando foi necessário, soube que deveria deixar a CIA, por problemas pessoais. O que posso dizer é que o trabalho dele foi feito. Espero que ele e sua família estejam prontos para superar isso”. Apesar da postura cautelosa do presidente, o jornal americano Washington Post publicou ontem que o FBI está fazendo mais uma tentativa de descobrir como Paula Broadwell conseguiu obter os documentos secretos, em uma série de investigações que podem minar não só a carreira de Petraeus, mas também do comandante das tropas americanas no Afeganistão, general John Allen. Na noite de segunda-feira, agentes do FBI recolheram caixas de material da casa de Paula, na Carolina do Norte, o que marca uma nova fase do inquérito, já que foi encontrado material suspeito.
priscila.chammas@redebahia.com.br
Investigações que partem do nada, vazamento de informações secretas e muitas traições conjugais. Se a história protagonizada pelo agora ex-chefe da CIA general David Petraeus fosse um filme, seria daqueles em que o telespectador olha incrédulo para a tela e suspira algo do tipo “mas será possível que todo mundo ‘se pega’ nesse filme?”. Sim, todo mundo se pega, no sentido mais baiano da expressão. Aquele que se refere a ficar, ter um caso, uma relação amorosa ou sexual.
O ex-diretor da CIA David Petraeus beija sua esposa, Holly: até parece uma cena típica de casal feliz, mas...
E é justamente a traição do protagonista David que dá início à problemática central do enredo: o vazamento de informações secretíssimas da CIA, que culminou em sua renúncia ao cargo, na semana passada. Tudo começou quando o general sessentão resolveu se engraçar com a ex-major do Exército Paula Broadwell, 20 anos mais nova e também casada, mãe de dois filhos.
Em 2010, quando Paula escrevia uma biografia de David, o general atuava como comandante das tropas americanas no Afeganistão. Resultado: a moça viajava constantemente para entrevistá-lo e os dois ficavam sozinhos no alojamento, saíam para correr juntos, enfim... ficaram muito, muito próximos, exatamente do jeito que você imaginou agora.
Para que ninguém desconfiasse, eles usavam uma forma secreta para se comunicar. Criaram uma conta ‘conjunta’ no Gmail, da qual os dois tinham a senha, e escreviam as mensagens na pasta de ‘rascunhos’. O outro lia e respondia do mesmo jeito, sem precisar enviar os e-mails. Ideias que só mesmo um diretor da CIA poderia ter.
... Petraeus tinha uma amante, a ex-major do Exército Paula Broadwell, a autora de sua biografia
Ameaças
O romance ia bem, obrigado. Até que um belo dia, depois de lançar a tal biografia, em janeiro, Paula começa a desconfiar que o amante teria outra amante. Mas a amante, na verdade, era amante de outro e tinha ainda mais um amante.
É amante demais para a sua cabeça? Vamos com calma, então. Paula começou a desconfiar que David andava muito próximo de Jill Kelley, também casada e amiga da família do general. E, como manda a cartilha de toda mulher ciumenta e passional, começou a enviar ameaças anônimas por e-mail à suposta rival.
Só que ela não contava que Jill tinha um amigo (depois descobriu-se que amigo não seria bem a palavra) trabalhando no FBI, e pediu ajuda a ele para descobrir quem a ameaçava. O FBI começou a investigar e acabou descobrindo não só a autoria dos e-mails como as mensagens que Paula e David trocavam secretamente pelo rascunho do Gmail. Ao descobrir as ameaças, David repreendeu a moça, o que talvez tenha despertado a fúria de Paula.
Coincidência ou não, a agora ex-amante de David mencionou sem querer uma informação sigilosa da CIA durante uma palestra para estudantes da Universidade de Denver em outubro. Na ocasião, ao ser indagada por um estudante sobre o ataque em Benghazi, na Líbia, Paula disse que o “anexo da CIA na verdade tinha membros de uma milícia líbia presos e eles acreditam que o ataque tenha sido para resgatá-los”. Teria David passado essa informação à amante num momento mais... relax, digamos assim?
Investigação
Foi o que o FBI imaginou e começou a investigar a moça. Após o interrogatório, no qual admitiu o romance, ela entregou seu computador para os investigadores, e nele foram encontrados arquivos sigilosos.
Também interrogado, o general David não teve saída e também assumiu o caso extraconjugal, mas negou que tivesse vazado os dados secretos. Mesmo assim, foi obrigado a renunciar, em 7 de novembro, dia seguinte ao das eleições dos Estados Unidos. “Depois de estar casado por mais de 37 anos, mostrei julgamento extremamente ruim ao me envolver em um caso extraconjugal. Tal comportamento é inaceitável, tanto para um marido quanto para um líder de uma organização como a nossa”, disse, no dia.
A história poderia ter acabado aí. Mas agora é que se desenrola a trama dos coadjuvantes. A socialite Jill, que poderia ter terminado o filme como a mocinha injustiçada, na verdade não tinha um amante. Tinha dois. Um deles o tal agente do FBI que a ajudou a descobrir a autoria das ameaças. Numa investigação posterior, descobriu-se uma intensa troca de mensagens entre os dois, em algumas delas ele enviava fotos suas sem camisa. Até aí, nada que comprometesse algo mais do que seu próprio casamento com o médico Scott Kerlley.
Acontece que o outro amante era o general John Allen, que acabava de ser designado pelo presidente Barack Obama para comandar a Otan. Allen também é casado e trocou e-mails comprometedores com Jill. Milhares de e-mails. Segundo o FBI, algo entre 20 mil e 30 mil páginas de correspondência com conteúdo “inapropriado”.
Resultado: Obama voltou atrás e desistiu da indicação. “A pedido do secretário de Defesa, o presidente suspendeu a designação do general Allen, e espera investigação sobre sua conduta”, justificou o porta-voz do Conselho de Segurança, Tommy Vietor. Se ficou curioso para saber quem mais pegou quem e quem será o próximo a cair, aguarde as próximas investigações.
Obama diz que não há provas de vazamento de documentos
No primeiro encontro com a imprensa após a reeleição, em que o tema principal era a economia, o presidente Barack Obama voltou a falar sobre o caso Petraeus e afirmou que, até o momento, não há evidências de que informações confidenciais tenham sido reveladas. Ele voltou a destacar a carreira “extraordinária” do ex-diretor da CIA, que pediu demissão na semana passada ao admitir um caso extraconjugal. “Até o momento, não temos nenhuma prova de que documentos secretos tenham vazado. Obviamente, existe uma investigação em curso e o FBI tem protocolos a serem seguidos. Petraeus teve uma carreira extraordinária. Ele serviu este país com grande distinção, no Iraque e Afeganistão. E, quando foi necessário, soube que deveria deixar a CIA, por problemas pessoais. O que posso dizer é que o trabalho dele foi feito. Espero que ele e sua família estejam prontos para superar isso”. Apesar da postura cautelosa do presidente, o jornal americano Washington Post publicou ontem que o FBI está fazendo mais uma tentativa de descobrir como Paula Broadwell conseguiu obter os documentos secretos, em uma série de investigações que podem minar não só a carreira de Petraeus, mas também do comandante das tropas americanas no Afeganistão, general John Allen. Na noite de segunda-feira, agentes do FBI recolheram caixas de material da casa de Paula, na Carolina do Norte, o que marca uma nova fase do inquérito, já que foi encontrado material suspeito.
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