13/09/2012-12h
Uma pesquisa feita nos EUA detectou que apenas duas doses por semana do
antirretroviral Truvada podem reduzir o risco de infecção pelo HIV em
até 76%, informou o jornal
O Estado de S. Paulo. A conclusão é de um estudo publicado hoje na revista
Science Translational Medicine que teve a participação de três centros de pesquisa brasileiros.
Em julho foi aprovado nos EUA o uso deste medicamento como forma de
prevenção, principalmente para homens saudáveis que fazem sexo com
homens. Porém, não havia sido descoberta qual seria a concentração exata
da droga suficiente para garantir um grau satisfatório de proteção e
nem a frequência de uso do antirretroviral que resultaria nesse efeito.
Segundo o
Estado de S. Paulo, a conclusão foi de que, com o uso
da concentração ideal do Truvada, duas doses por semana seriam capazes
de reduzir os riscos de infecção em 76%. Quatro doses semanais
garantiriam 96% de proteção. E sete doses semanais diminuiriam o risco
em 99%.
“Surpreendentemente, descobrimos que os participantes do estudo não
tiveram de aderir perfeitamente ao regime terapêutico para colher os
benefícios do Truvada”, disse o pesquisador americano Robert Grant, do
Instituto Gladstone, organização dedicada a pesquisas biomédicas ligada à
Universidade da Califórnia. Apesar dos bons resultados, os
pesquisadores alertam que, por enquanto, somente o uso diário é
oficialmente recomendado para garantir a proteção.
“A possibilidade de usar menos doses torna a estratégia mais barata.
Também tem implicações em relação aos efeitos colaterais, que seriam
menores. Nesse caso, quanto menos, melhor”, diz a médica Valdiléa Veloso
dos Santos, do Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas da Fundação
Oswaldo Cruz e uma das autoras do artigo, ao
Estado de S. Paulo.
Especialistas alertam que esse tipo de estratégia deve ser aliada a
outras medidas preventivas. “Essas estratégias alternativas não devem
ser aplicadas isoladamente, mas vir dentro de um pacote, junto com um
aconselhamento”, diz o infectologista Alexandre Naime Barbosa, da
Faculdade de Medicina da Unesp, ao
Estado de S. Paulo.
Quem optar por adotá-la, por exemplo, deve ser aconselhado a continuar
usando a camisinha, a fazer testes de HIV periodicamente e a tratar
outras DSTs, que costumam deixar o paciente ainda mais vulnerável à
infecção por HIV.
Especialistas e ativistas ouvidos pela Agência Aids pedem mais discussão sobre as novas estratégias de prevenção
A partir das mesas de discussão que assistiu durante a Conferência
Internacional de Washinton, em julho, o médico e gerente do Serviço de
Atenção Especializada em DST/Aids (SAE) Herbert de Sousa, de São Paulo,
Robinson Fernandes de Camargo, afirmou que muito se falou sobre
profilaxia pré-exposição, circuncisão, microbicidas e novas tecnologias
de prevenção ao HIV.
“Fiquei com a sensação que nós, aqui no Brasil, temos discutido muito
timidamente essas novas ferramentas de prevenção, talvez isso seja fruto
do pensamento reinante, do que chamo de ‘Fundamentalismo do Látex’,
cuja toda e qualquer ação passa apenas e tão somente pela camisinha”,
diz.
O infectologista e pesquisador Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da
USP, concorda com a falta de discussão por parte do governo brasileiro
sobre o assunto. “O governo brasileiro deveria começar a discutir mais
as possibilidades de adotar outras estratégias de prevenção ao HIV, como
o uso de remédios para algumas populações bem vulneráveis à infecção,
mesmo que estas não tenham o vírus (profilaxia pré-exposição) e até a
circuncisão masculina”, afirma.
Quanto à especulação da liberação do Truvada no País, Hugo Hagström,
integrante do Grupo de Incentivo à Vida (GIV) e paciente de aids há mais
de 20 anos, disse que, caso o governo brasileiro adote a esta medida, o
receio das pessoas à doença seria o mesmo. “A banalização já é um fato
desde o surgimento do coquetel. Não acho que vá banalizar ainda mais”,
afirma. “Uma das questões que colaboram é o receio da população aos
efeitos adversos. As pessoas imaginam que os medicamentos ligados ao HIV
e aids são grandes monstros e teriam certo medo de ingeri-los”.
Já Beto Volpe, um dos fundadores do Grupo Hipupiara de São Vicente,
acredita que o surgimento do coquetel antiaids já fez com que a
população se preocupasse menos com o HIV e um medicamento de prevenção
só banalizaria ainda mais a doença. “O uso do Truvada deveria ser
controlado por especialistas e não acessível para qualquer pessoa”,
comentou.
O representante da RNP+ (Rede Nacional de Pessoas Vivendo com HIV e
aids) no Rio de Janeiro, William Amaral, vê o uso do Truvada como mais
uma forma de prevenção. “Pode ser útil para alguns casais
sorodiscordantes, por exemplo... Mas as pessoas precisam saber que a
proteção do medicamento não é de 100%. Então, o preservativo ainda é a
melhor opção”, completa.
Redação da Agência de Notícias da Aids
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