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sexta-feira, 3 de junho de 2011

Polícia descarta elo entre assassinatos no campo; CPT rebate


Domingo, 29 de maio de 2011, 14h19  Atualizada às 15h12


Marcelo Lacerda/Terra Magazine
O corpo de Herivelto Pereira dos Santos foi encontrado no sábado, a oito quilômetros do Assentameto Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna
O corpo de Herivelto Pereira dos Santos foi encontrado no sábado, a oito quilômetros do Assentameto Praialta-Piranheira, em Nova Ipixuna















Felipe Milanez
De Nova Ipixuna (PA)
A Policia Civil do Pará afirma que o assassinato do assentado
 Herivelto Pereira dos Santos, encontrado morto neste sábado
 (28), não teria ligação com o homicídio do casal de extrativistas
 José Claudio Ribeiro da Silva e Maria Bispo do Espírito Santo, 
ocorrido na terça-feira passada. Detalhe: duas horas depois 
de encontrado o corpo de Herivelto, o delegado encarregado
 do caso já manifestava tal opinião. Disse o delegado José 
Humberto de Melo Jr.:
- Não tem ligação, não existe lógica para associar esse crime 
ao outro caso. Até porque no local existe a questão do tráfico
 de drogas, o local é utilizado como uma rota de fuga. Tem 
que ser apurado o que aconteceu lá, e não ser associado 
ao assassinato.
(Exatamente. Há que ser apurado e isso se aplica a todas as 
versões, inclusive, por certo, à do delegado).
José Batista, por exemplo, advogado da CPT, rechaça a 
avaliação do delegado José Humberto:
-Discordo totalmente da posição dele. A Polícia Civil 
não investigou nenhuma outra hipótese de que o crime
 estivesse relacionado com alguma outra causa. Se a 
polícia divulga que está relacionada ao tráfico de drogas,
 é irresponsável. Não há nenhuma prova colhida que aponte
 isso. É uma decisão precipitada que pode desviar o foco da
 investigação.

 

Corpo foi localizado por familiares (Foto: Marcelo Lacerda)
O corpo da vítima foi encontrado por familiares. Herivelto, que tinha
 25 anos, estava desaparecido desde quinta-feira (26) quando 
teria, segundo familiares, ido comprar peixe no Porto do Barroso,
 localizado à beira do lago da represa de Tucuruí.
Familiares de Herivelto relataram o assassinato a integrantes 
de uma operação conjunta do IBAMA e Polícia Rodoviária 
Federal que, com quatro viaturas e um helicóptero, atuavam 
na repressão de crimes ambientais. A equipe, avisada pela 
família, se deslocou até o local onde se encontrava o corpo.
Segundo informações do advogado da CPT e de outros 
assentados ouvidos na delegacia - que pedem sigílo por 
temor a represálias -, Herivelto seria uma das testemunhas
 no caso do assassinato dos extrativistas José e Maria.
Conforme esta versão que o aponta como testemunha, Herivelto
 consertava uma estrada danificada pelo período de chuvas,
 quando foi abordado pelos pistoleiros; que não encontravam a
 rota de fuga do local. Herivelto não chegou a ser ouvido pela policia.
Mais assentados afirmam ter visto - como também relatava
 Herivelto - uma moto vermelha da marca Honda, modelo 
Bros, e nela, dois homens com capacetes; quanto a 
esse fato e descrição, portanto, Herivelto não é a única testemunha.

 

Peritos estiveram no local (Foto: Marcelo Lacerda)
A família encontrou o corpo às 10 horas da manhã do sábado
 em um ponto de difícil acesso e, duas horas depois de informados
, chegaram integrantes da Polícia Rodoviária Federal e do
 IBAMA. Agentes da Polícia Federal, transportados pelo 
helicóptero do IBAMA, tiveram acesso à cena do crime no 
meio da tarde. A Polícia civil chegou ao local apenas às 20h.
O corpo de Herivelto foi encontrado cerca de 50 metros dentro
 da mata, ao largo de uma trilha que leva ao lago de Tucuruí 
e que só pode ser feita a pé. Essa trilha, localizada a 
aproximadamente 500 metros da casa de um assentado, João
 Pereira de Sousa, 69. Segundo a perícia, Herivelto foi morto 
com pelo menos dois tiros. Não havia sinais indicando que a
 vítima tenha sido arrastada pela mata. Sua moto foi localizada 
na trilha.
O assentado João Pereira de Sousa afirma ter ouvido tiros
 por volta das 15h, na última quinta-feira, quando trabalhava
 em uma roça nas proximidades. Sousa diz não ter se dado 
conta dos tiros terem sido disparados tão próximos de sua casa.
No sábado, os parentes de Herivelto armaram uma busca 
pelo desaparecido. "Nós chegamos aqui, na beira da grota,
 vimos a moto dele, e os urubus bateram asas. Entramos 
na mata, éramos em onze¿, afirma a irmã Acleide Pereira 
dos Santos.
"A Justiça tem que apurar o caso. Nós temos que pedir reforço.
 A informação que nós temos é que a beira desse rio é cheio de
 bandidos", disse João de Sousa Pereira. Este, embora de nome
 parecido com o do assentado João Pereira de Sousa, é tio de
 Herivelto e vive na vizinha localidade de Itupiranga.
Segundo o delegado Melo Jr., no caso da morte de Herivelto
 não há relatos de conflito agrário nem indícios de conflitos
 por terra. Por isso o crime não será investigado (pela delegacia
 especializada de Marabá) no mesmo processo que apura 
a morte do casal de extrativistas. Diz o delegado:
- Vai ser aberto um inquérito na delegacia local, de Nova Ipixuna.
O delegado Melo Jr. suspeita de um acerto em meio a 
disputas no tráfico de drogas. Depoimentos de assentados
 indicariam, é a informação da Polícia, que existiriam 
grandes plantações de maconha no assentamento. "Há um 
indicativo de tráfico", diz o delegado.
Eduardo Rodrigues da Silva, presidente do Sindicato 
dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Nova 
Ipixuna, confirma que Herivelto era assentado, trabalhava na
 roça, vivia com sua mãe Maria Dolores e que seu pai,
 Acedônio, foi vítima de latrocínio há alguns anos.
Moradores aterrorizados
O terceiro assassinato, na mesma semana da morte de 
José Cláudio e Maria, trouxe pânico ao local. Mais do que 
com medo, assentados estão aterrorizados. Famílias 
seguem trancadas nas casas, com crianças chorando.
 "Preciso avisar lá em casa que está tudo bem, eles 
estavam chorando quando saí", conta o Presidente 
do Sindicato, Eduardo Rodrigues, que acompanhou o 
trabalho da polícia depois de encontrado o corpo.
Rodrigues, presidente do Sindicato dos Trabalhadores 
e Trabalhadoras Rurais de Nova Ipixuna, resume o clima
 naquela região do Pará:
-Aqui não tem Estado... estamos abandonados . É 
preciso esclarecer esses crimes. Tenho medo, a gente
 está com medo... quem não fica com medo em uma
 situação dessas? Todo mundo está desesperado. 
O abandono aqui é cruel. Muito cruel.
Felipe Milanez é jornalista e advogado, mestre em ciência política pela Universidade de Toulouse, França. Foi editor da revista Brasil Indígena, da Funai, e da revista National Geographic Brasil, trabalhos nos quais se especializou em admirar e respeitar o Brasil profundo e multiétnico.
Fale com Felipe Milanez: felipemilanez@terra.com.br

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